01 abril 2014

Eclipse da Lua (15 de abril de 2014)

Fig. 1 Detalhes da geometria da sombra da Terra e posição da lua no eclipse lunar segundo (1).
Conforme já divulgamos aqui anteriormente (2), haverá um eclipse total da Lua na madrugada do dia 15 de abril de 2014. Em nosso post anterior (2), destacamos:
A imersão da sombra terrestre na lua, para moradores do fuso -3h (correspondente ao horário de Brasília) ocorrerá a partir da 3:00, com a lua aproximadamente a 45 graus de elevação em relação ao horizonte. Às 04:00 ela já estará completamente eclipsada, e terá, como companheiros no céu, Spica (α Vir) e Marte, já em direção ao horizonte oeste. A sombra começará a sair da superfície da lua a partir de 05:26. É importante notar que o final do eclipse não será visível no Brasil.
O mais interessante da ocorrência desse eclipse é o escurecimento do céu, que permitirá ver a olho nu estrelas que são bastante ofuscadas com a presença da lua cheia. Também brilhante será a presença de Marte, com mag. -1,4, já passada a  data de oposição. 
Fig. 2 Lua quase completamente eclipsada a 15/4/2014, 04:00 tempo de Brasília, tendo Spica (α Vir) como companheira a aproximadamente 2 graus de distância.  O conjunto por si forma uma espécie de conjunção inusitada, com forte contraste de cores.
Conforme a Ref. (3), o diâmetro aparente do disco lunar está próximo ao seu valor médio porque o momento do eclipse se dará entre o apogeu e o perigeu lunar. Esse será o eclipse de número 56 da série de Saros que começou em 14 de Agosto de 1022. Embora esse não seja uma passagem "central" pela sombra da Terra, ele durará cerca de 78 minutos. Ainda segundo o autor da Ref. (3):
O aparecimento de Spica próximo da lua lembra o autor do eclipse lunar de 13 de abril de 1968, quando Spica surgiu a 1,3 graus a sudoeste de lua eclipsada. O brilho azulado de Spica fez então um belo contraste com a vermelhidão da lua.
Trata-se, também, do primeiro de uma série de eclipses lunares que ocorrerão em 2014 e 2015 (4). Essa será também uma oportunidade para realizar fotometria do eclipse (Fig. 3), usando o método que descrevemos anteriormente em nosso artigo "Fotometria lunar no eclipse penumbral de 18 de Outubro de 2013" (5). Dessa vez, porém, o intervalo de tempos de exposição terá que ser maior por causa do escurecimento mais pronunciado do disco lunar.

Fig. 3 Um arranjo possível (câmera DSLR e tripé) para fotometria durante o eclipse. Para mais detalhes, ver Ref. (5).
Referências

(1) http://eclipse.gsfc.nasa.gov/OH/OHfigures/OH2014-Fig01.pdf

(2) Blog astronomiapratica: Alguns eventos astronômicos em 2014

(3) http://eclipse.gsfc.nasa.gov/OH/OH2014.html

(4) Outro eclipse lunar ocorrerá a 8 de Outubro de 2014, que será principalmente visto no meio do oceano Pacífico e, portanto, desfavorável ao Brasil.

(5) http://astronomiapratica.blogspot.com.br/2013/10/fotometria-lunar-no-eclipse-penumbral.html

14 março 2014

Oposição de Marte (Abril de 2014)

Desenhos por Ademir Xavier na oposição de Marte em 23 de Setembro de 1988 feitos com um refletor Newtoniano de 120 mm. Os tempos mostrados estão em TU(*). Diário de observação da época: "Esta noite, as condições de observação estavam boas. Novos caracteres foram vistos: presença de região mais escurecida a oeste de Syrtis Major e também uma região clara ao pé do mesmo lugar, ou seja tal região assinalada era sensivelmente mais clara que as regiões vizinhas."
Atenção! - É importante considerar que Marte será um bom alvo para observações por telescópios até, pelo menos, meados de maio de 2014 e não apenas no dia 8 de abril!
Conforme anunciamos anteriormente, este ano haverá uma oposição de Marte. O evento é relevante porque esse planeta só se encontra em oposição a cada dois anos. 

Marte estará em oposição (isto é, na linha Sol-Terra-Marte) por um mês e meio e poderá ser observado bem, pois seu diâmetro será maior que dez segundos de arco. O máximo será alcançado de 12 a 17 de Abril de 2014 (aproximadamente 15"). Para observadores do hemisfério norte, essa será a última vez que ele estará bem alto acima do horizonte para um oposição favorável. Gradativamente até 2020, ele se tornará um objeto mais apropriado para observação no hemisfério sul.

Marte estará na constelação da Virgem na oposição de 2014 (Fig. 3). No dia 14 de Abril, por exemplo, haverá um "alinhamento" entre Marte, a lua e a estrela Spica (alfa da Virgem).

Estação do ano em Marte

Começa o verão no hemisfério norte de Marte em fevereiro (de nosso ano terráqueo). Portanto, a estação que ocorrerá em Marte será o verão que mostrará sua face para a Terra este ano. A calota polar norte estará reduzida a um tamanho mínimo. A oposição deste ano será semelhante a de 2012.

O que se pode ver

Munido de um telescópio de 200 mm a 300 mm de diâmetro, algumas características mais marcantes da topografia marciana poderão ser contempladas dependendo das condições de observação (ver abaixo). Um exemplo são as nuvens orográficas (Fig. 1) sobre os grandes vulcões marcianos (em Tarsis e Elysium) que devem durar até Junho. 

Fig. 1 Núvens orográficas em Marte como vistas em 2012. Para sua observação é recomendado um instrumento de grande abertura (> 200 mm de diâmetro). Fonte: Christophe Pellier.
Segundo C. Pellier (1), uma fenômeno que pode ser visto no planeta é o cinturão de nuvens de afélio. Trata-se de uma ocorrência muito mais sutil e que se vê na atmosfera ao redor do planeta quando ele está mais afastado do sol.

Outros fenômenos atmosféricos que podem ser vistos durante a oposição são:
  • Aparecimento de geadas na região de Hellas (Fig. 2). Esse é um vasto platô na região sul de Marte na mesma longitude de "Syrtis Major", que é uma característica facilmente reconhecida por telescópio. Em geral, muitos observadores acabam confundindo o branco observado nessa região com a calota polar. Não podemos nos esquecer que é inverno no hemisfério sul de Marte, o que favorece a formação de geadas.
  • Aparecimento de neblinas matutinas/vespertinas. Próximo ao limbo (separador entre dia e noite) pode ser possível observar esbranquecimentos que desaparecem rapidamente. De acordo com C. Pellier (1), as formações mais espetaculares ocorrem na região de Tharsis que permite a essa região elevada se destacar visualmente.
  • Núvens de grande altitude. De difícil observação, trata-se de nuvens elevadas iluminadas pelo sol sobre regiões ainda escuras (noite) de Marte. Para saber mais, consulte a Ref. (3). Foram observadas em 2012. 

Fig. 2 Mapa da superfície de Marte com características reconhecíveis por telescópio.Fonte: (2). Sul está em cima.
Condições de observação

Ter um bom telescópio (de grande abertura, boa óptica e bem colimado) não é a única condição para se observar os fenômenos acima descritos. É necessário também aguardar pelo melhor momento de observação, não só no período de maior proximidade, mas, ao  longo da noite e madrugada, por momentos em que a atmosfera se mostre menos agitada.

Essa condição é fundamental para se observar Marte porque, por causa de sua cor, se mostra como um objeto de baixo contraste ao olho humano. Naturalmente, câmeras de vídeo poderão registrar imagens nítidas e softwares especiais poderão reduzir a quantidade de ruído provocado pela atmosfera, de forma a se produzir belas imagens de planeta vermelho. 

Fig. 3 Posição de Marte junto à Lua e Spica no quadrilátero da constelação da Virgem em 14 de Abril de 2014. Essa configuração corresponde a aproximadamente 21:00 (horário de Brasília. Nessa época, Marte está mais próximo da Terra.

(*) TU = Tempo Universal

Referências

(1) What can we see on Mars this year? - http://www.planetary-astronomy-and-imaging.com/en/2014-mars/
(2) http://www.astro-tom.com/getting_started/mars.htm
(3) "A martian stumper" - http://exosky.net/exosky/?p=1606

20 fevereiro 2014

Ocultações de Saturno pela Lua (em 2014)

Fig. 1 Ocultação de saturno pela Lua em 3/11/2001. Imagem por Étienne Bonduelle, Cambrai, França. Meade 8-polegadas e câmera Philips ToUcam Pro.
Uma ocultação é o fenômeno de passagem de um astro 'em frente' a outro, ou  seja, durante uma ocultação, um objeto celeste fica no meio do caminho da linha de visada do observador. 

Ocultações podem ser provocadas por diversos corpos celestes tais como planetas, asteroides e, principalmente, a Lua. Por ter um diâmetro aparente grande, a Lua frequentemente intercepta diversas estrelas em seu caminho. No passado, a temporização de ocultações de estrelas pela Lua foi importante para se estabelecer correções nos chamados 'elementos orbitais' desse satélite e, assim, determinar, com precisão, a influência de perturbações no movimento da Lua, que é bastante irregular.

Hoje, as ocultações principalmente de asteroides pela Lua e de asteroides de estrelas são importantes para se determinar - a partir da curva de brilho - o diâmetro de asteroides.  Ocultações de planetas pela Lua tem uma razão mais contemplativa, já que pouco pode ser acrescentado ao nosso conhecimento sobre planetas na era das explorações espaciais.

Em 2014 ocorrerão duas ocultações do planeta saturno pela Lua (Fig. 1) que serão visíveis em boa parte do Brasil e na sua parte mais ao sul. Ressaltamos que nas áreas em que tais ocultações não acontecem, o fenômeno será apreciado como uma conjunção.

Ocultação de 21 de Março de 2014 (1).
Fig. 2 Simulação da fase e posição de saturno
no egresso  da ocultação em 20/3/2014.
(via Stellarium)

Essa ocultação inicia-se no dia 20/3/2014 por volta das 22:30 com a Lua aproximadamente a 17 graus acima do horizonte. O fenômeno será relativamente rápido, com egresso previsto por volta das 23:15 com a Lua a 28 graus de elevação. Portanto, a duração total será de aproximadamente 45 minutos.

O mapa da Fig. 3 ilustra a posição geográfica da 'sombra da Lua' para esse evento.

Fig. 3 Mapa da localização geográfica da 'sombra' da Lua para saturno em 21/3/2014. O fenômeno será visto em boa parte do Brasil. Fonte: IOTA (ref. 2)

Ocultação de 17 de Abril de 2014.

Essa será uma ocultação apenas para a região sul do Brasil, conforme pode-se ver pela distribuição geográfica da sombra na Fig. 4. Em Porto Alegre/RS, por exemplo, a ocultação se inicia por volta das 5:00 do dia 17/4 e termina por volta das 5:54 com quase uma hora de evento.

Nas regiões em que ela se mostrar como uma conjunção, ela também mostrará saturno sucessivamente mais distante da Lua, à medida que o observador se posicionar mais ao norte.

Fig. 4 Mapa da localização geográfica da 'sombra' da Lua para saturno em 17/4/2014. O fenômeno será visto em boa parte do Brasil. Fonte: IOTA (ref. 2)

Em Campinas/SP, por outro lado, por 'pouco' a ocultação não será visível. Ao invés disso, o que se verá será uma 'conjunção' entre saturno e a Lua, conforme ilustra a simulação via Stellarium da Fig. 5. A conjunção será bem 'cerrada' com a distância de saturno ao limbo lunar de aproximadamente 1' na sua maior aproximação.

Fig. 5 Simulação da posição de Saturno e da Lua em 17/4/2013 para a região de Campinas/SP por volta das 5:36.  O fenômeno é uma conjunção.

O que se pode ver?

É possível cronometrar o instante de ocultação não só de saturno e seus anéis, mas também de diversos satélites, contanto que se tenha um instrumento razoavelmente potente (mais de 10 cm de abertura).

Com grandes aumentos (desde que justificados com aberturas suficientes), é possível contemplar o 'por de Saturno' na Lua ou o seu 'nascimento' (durante o egresso), o que, se registrado de forma fotográfica, pode resultar em um interessante imagem para a posteridade.

A observação à vista desarmada também é interessante, uma vez que cada observador relatará de forma diferente o evento, o que depende do grau de acuidade visual de cada observador.

A observação com binóculos também é recomendada.

Notas e referências

1 - Observe que a data oficial da ocultação (referenciada por meio de tempo universal é 21 de março, mas ocorrerá no Brasil no dia 20/3).
2 - IOTA, The International Occultation Timing Association, http://www.lunar-occultations.com/iota/iotandx.htm