07 novembro 2014

Chuva de meteoros Leônidas 2014

Gravura de 1833 representando a tempestade Leônidas com cerca de 100 mil meteoros por hora.
A famosa chuva de meteoros Leônidas pode apresentar boa "campanha" em 2014. Associada a restos do cometa Tempel-Tuttle, a noite de 17 para 18 de Novembro de 2014 se mostra como favorável por causa da fase da lua na data, um fino minguante.

Quantos meteoros será possível observar este ano? Isso depende de várias condições; em geral essa chuva é considerada de intensidade "moderada", o que representa uma taxa de 10 a 15 meteoros por hora (ou seja, assumindo a taxa máxima, isso representa um meteoro a cada 4 ou 5 minutos). Há que se ter paciência para conseguir ver, condições cristalinas de observação, ausência de nuvens, distância de grandes centros de poluição luminosa etc. Além disso, uma posição de observação confortável também deve ser conseguida para se evitar fadiga. 

Este ano o planeta Júpiter estará próximo da posição da radiante (figura abaixo). A posição da radiante para o horário e local indicado é de aproximadamente 33 graus de altitude. Em geral, quanto mais tarde for feita a observação, mais elevada estará a radiante, o que facilita a observação. Porém, a alvorada acaba fatalmente impedindo a observação. Portanto, talvez o melhor horário para observação será entre 4:30 e 5:00 no horário local de Campinas/SP (6:30 a 7:00 UT). Quanto mais ao norte estiver o observador, tanto melhores serão suas condições de observação. Importante, esse horário ótimo represente o melhor em termos geométricos. É difícil estimar quando se dará exatamente o "máximo" de atividade dentro do período. 

Representação do céu na madrugada do dia 18/11/14 aproximadamente as 5:00 da manhã como visto desde Campinas/SP. Nota-se a lua em fase minguante próximo ao horizonte leste. O círculo representa a posição aproximada da radiante de Leônidas. Um pouco acima está o planeta Júpiter como que a indicar a posição da radiante.
Histórico

Segundo (1):
"As Leônidas são conhecidas em produzir tempestades de meteoros. Seu cometa pai - o Tempel-Tuttle - completa uma revolução em torno do sol a cada 33 anos. Ele libera novo material quando entra o sistema solar interior e se aproxima do sol. Desde o século XIX, observadores esperam ver tempestades Leônidas a cada 33 anos, o que se iniciou com a tempestade de 1833, que, segundo se diz, produziu cerca de 100000 meteoros por hora. Outras tempestades ocorreram 33 anos depois, em 1866 e 1867. 
Previu-se uma outra para 1899, o que não aconteceu.  Somente em 1966 outra tempestade espetacular aconteceu como vista sobre as Américas. Em 1966, observadores na parte sul dos Estados Unidos reportaram ter visto de 40 a 50 meteoros por segundo (isto é, 2400 a 3000 meteoros por minuto) durante um intervalo de 15 minutos na manhã do dia 17 de Novembro de 1966."
Interessante que houve uma terrível epidemia de malária entre 1866 e 1868 que dizimou a população da Ilha Maurícia (2) e que foi associada, pelos moradores da ilha, à ocorrência da tempestade de meteoros de 1866. Este ano, com a epidemia de Ebola na África Ocidental, a chuva de Leônidas não servirá como anúncio apocalíptico.

Além de condições geométricas para a posição dos observadores em relação ao sol, a lua etc, são importantes as condições de alinhamento dinâmico entre a órbita da Terra e a dos dejetos do cometa, o que somente ocorre sob condições especiais e algo imprevisíveis.

Referências

(1) http://earthsky.org/space/everything-you-need-to-know-leonid-meteor-shower
(2) Malaria, Communicable diseases control unit, ministry of Health and Quality of Live. 

23 outubro 2014

De incêndios e observatórios astronômicos

Imagem do terreno que abriga o Observatório de Americana (Outubro/2014). Foto de Matt Pratta. Este observatório foi consumido pelo fogo.
O dia 8 de outubro de 2014 foi marcado por terrível incêndio que destruiu o Observatório Municipal de Americana, em São Paulo. Com a fluidez da informação nos dias atuais, a tragédia teve conhecimento rápido entre amadores e entusiastas em astronomia no interior paulista. As imagens da figura abaixo, tiradas por Deivis Ortiz testemunham a dimensão do estrago. 

Imagens por Deivis Ortiz mostrando o interior do observatório de Americana após o incêndio em Outubro de 2014.
Embora a sensação de perda profunda, é importante conhecer, pela história, que observatórios astronômicos sempre foram alvos de vandalismo e acidentes desse tipo, justamente por se localizarem em lugares distantes de acesso difícil. Muitas vezes, as instalações jazem abandonadas por períodos grandes de tempo e a ação cruel dos elementos torna mais severas as exigências de manutenção preventiva e vigilância constantes. 

Um pouco de História

A ocorrência com o observatório de Americana não é única. Encontramos relatos na web de outros incidentes semelhantes envolvendo observatórios astronômicos:
  1. Ainda no século 17, o grande J. Hevelius (1611-1687) teve sua casa e observatório destruídos (1) por um incêndio em 1679 (26 de Setembro). Os instrumentos (ainda sem a presença do telescópio)  foram perdidos;
  2. O observatório de Vartiovuori, onde trabalhou o famoso astrônomo alemão Friedrich W. Argelander (2), na Turquia, esteve envolvido por um incêndio no século 19. Esse foi o grande incêndio turco de 1827 que, felizmente, não atingiu o observatório; 
  3. A noite de 5 de Fevereiro de 1997 foi marcado por um incêndio que causou a perda da biblioteca do Observatório de Pulkovo em São Petersburgo (3). Houve suspeitas de que a máfia russa estivesse envolvida no caso para promover desapropriação de terreno. Esse observatório foi construído pelo famoso astrônomo F. G. Struve em 1839 e passou por triste história de destruição com o cerco de Leningrado em 1940;
  4. O tubo e a montagem do grande refrator do observatório de Yerkes quase foram destruídos em 1893 por um incêndio em uma feira de exposições em Chicago, nos Estados Unidos (4);
  5. Em Janeiro de 2003 ocorreu um grande incêndio que destruiu completamente as instalações do grande observatório do Monte Stromlo em Camberra, Austrália (5). O observatório de Monte Stromlo foi construído em 1924 e era um dos recursos mais importantes de pesquisa australiano. 
  6. Em 2003 o fogo também ameaçou o grande telescópio Herschel de 4,2 m de diâmetro, localizado no observatório Roque de los Muchachos, nas ilhas Canárias (6).
Um canguru passei em frente a uma cúpula destruída  por incêndio em M. Stromlo, Autrália. Foto: Andrew Meares. 
Assim, o fogo é ameaça constante na vida dos observatórios astronômicos. Porém, ele nunca será a pior das ameaças porque observatórios podem ser reconstruídos em seus sítios que serão sempre ideais se se preservarem isolados e distantes. 

O que seria uma ameaça de verdade? Como curiosidade, os leitores considerem os restos do observatório construído em 1877 por Edward Dickerson (7) em Nova Iorque cuja imagem podemos ver abaixo. Esse desastre é irrecuperável porque o observatório foi cercado por prédios altíssimos, tais como o Empire State Building, seu vizinho de fundo...

Imagem aérea do observatório de E. Dickerson (7), um cientista amador que construiu este observatório em 1877 na cidade de Nova Iorque. O antigo prédio é vizinho hoje do Empire State Building. O lugar tornou-se o pior possível para se realizar observações astronômicas. Eis aqui um verdadeiro desastre para um observatório. Foto: James Ryan.
Referências

(1) Hevelius: http://www.hao.ucar.edu/education/bios/hevelius.php
(2) http://en.wikipedia.org/wiki/Vartiovuori_Observatory
(3) http://astrogeo.oxfordjournals.org/content/38/2/7.2.extract
(4) http://oneminuteastronomer.com/53/yerkes-observatory/
(5) http://www.theage.com.au/articles/2003/01/20/1042911328090.html
(6) https://www.starstryder.com/2009/08/30/of-astronomy-and-fire/
(7) Imagens de observatórios abandonados.

04 outubro 2014

Cometas em 2014: C/2012 K1 (PANSTARRS)

Imagem de Rolando Ligustri mostrando o cometa C/2012 K1 com duas caudas. Esse cometa poderá ser visto em boa parte de Outubro de 2014 como um astro matutino.
Um cometa visível em binóculos e em boas condições de observação para o hemisfério sul pode ser visto em Outubro de 2014: C/2012 K1 (PANSTARRS). Trata-se de um astro descoberto pelo telescópio Panstarrs (no Havaí) com mag. 19,7 no dia 17 de Maio de 2012.

No hemisfério sul, as condições para sua observação são particularmente favoráveis porque ele se mostra (por volta das 04:00 da manhã) como um astro bem posicionado no céu (aproximadamente 40 graus de elevação), visível em direção leste. 

Esse cometa atingiu o periélio em Agosto de 2014 e brilha em outubro com magnitude pouco acima de 7,0, podendo ser visto em pequenos telescópios e binóculos. Para tanto, o período ideal é quando a lua não se encontrar próxima (o que ocorrerá entre 08/10/2014 e 19/10/2014). No começo de Outubro, esse cometa estará numa região do céu entre as constelações da Popa (Puppis) e o Unicórnio (Monoceros)/Cão Menor (Canis Minor).

O mapa abaixo permite determinar a posição desse cometa para a segunda metade de Outubro de 2014. Ver "Referências" para a versão completa (Setembro e Outubro) desse mapa. No dia 14/10, por exemplo, o cometa será visível entre as estrelas ρ e ξ Puppis, o que facilitará sua localização.

Mapa da localização do cometa c/2012 K1 para a segunda metade de Outubro. Esse cometa passará em uma região do céu rica em aglomerados abertos.
Posição de C/2012 K1 entre estrelas da constelação de Puppis em 14 de Outubro de 2014.

Referências

  • Um mapa de sua localização pode ser obtido em PDF aqui.