03 abril 2018

A constelação de Órion (segundo gregos e egípcios)

Uma representação de Órion como visto no hemisfério sul, pelo sotware Stellarium.
Alguns dizem que a constelaçao de Canis Major é de Órion, porque esse era caçador e o cão foi colocado junto a ele no céu. (Pseudo-Hyginus, Astronomica 2. 35, [1])


Órion na mitologia grega

Segundo a mitologia grega, Órion (Ωριων), não se sabe se filho de Ireus ou do deus Poseidon com Euriale, natural da Beócia, era um caçador gigante muito bonito conhecido dos habitantes daquela região como Caldaon. Tendo peregrinado até a ilha de Quios, infestada de animais perigosos, sob influência da ninfa Hélice apaixonou-se por Mérope, filha do rei Enopion. Depois de caçar e matar todas as bestas de Quios, trouxe os espolios da caça aos pés da princesa como presente. Entretanto, o rei não queria o casamento.

Depois de várias tentativas de aproximação da princesa, Órion conseguiu entrar no quarto de Mérope. Enopion pediu ajuda ao deus Dionísio que fez com que Órion caisse, sob influência dos sátiros, em profundo sono. Nesse estado, Órion foi cegado por Enopion. Um óraculo disse a Órion que ele poderia se curar caso seguisse em direção a leste, retirasse seus olhos e os expusse aos raios de deus Hélios, ou o sol nascente. Seguindo o barulho dos martelos dos Cíclopes, Órion partiu para Lemos onde Hefesto fez com que Cedálion (semi-deus inventor da fundição) se tornasse guia de Órion. Quando bem depois o caçador recuperou a visão, retornou a Quios para se vingar. Entretanto, avisado por amigos, Enopion fugiu. Órion partiu então para a ilha de Creta para viver como caçador junto à Ártemis. 

Com relação à morte de Órion, existem várias versões.  Em uma delas, Órion, acreditando-se muito poderoso, prometeu limpar a terra de todos os animais selvagens. Gaia (a terra) enviou um terrível escorpião que o matou. Por isso Órion e o Escorpião estão no céu. O deus Asclépio tentou ressucitar Órion, mas foi impedido por um relâmpago lançado por Zeus. 

O nome de Órion parece derivar do nome grego para "montanha" - oros. Diz-se também que as Corônidas Mênipe e Metioque eram duas ninfas filhas de Órion. Quando a Beócia foi atingida por uma grande seca, essas duas ninfas se oferecem em sacrifício aos deuses. A deusa Perséfone teve piedade das duas e as transformou em um par de cometas. O nome "Koronis", do grego "que tem forma curvada", é uma lembrança da forma dos cometas. [1]

Alguns textos antigos de astronomia, segundo [1], justificam a posição de várias constelações no entorno de Órion:
A lebre (a constelação de Lepus) é representada como fugindo do cão do caçador Órion, pois quando querem representar Órion como um caçador, fazem-no participar de uma caça e assim colocam a lebre aos seus pés... Outros não concordam com isso, pois um caçador tão grande e nobre como Órion  - fala-se dele em sua luta com Escorpião - não deveria ser representado como caçando lebres. Calímaco (poeta grego do 3o século a. C) também é considerado culpado, pois quando Órion caiu nas graças de Diana (Ártemis), afirma que esta adorava carne de lebres e as caçava. Então, representaram Órion caçando o Touro. (Pseudo-Hyginus, Astronomica 2. 33, [1], II Século d.C.)
Os antigos egípcios e a constelação de Órion

A imagem de um homem parece sempre se associar ao agrupamento de estrelas de Órion em várias culturas. É assim, por exemplo, que um "homem-velho" é visto pelos Tupis-Guaranis da América do Sul a partir de um vasto aglomerado de estrelas em que Órion e as Híades estão incluidos [2]. Já escrevemos algo sobre a mitologia de Órion em nosso post sobre as "Três Marias". Por isso, aqui dedicamos descrever Órion do ponto de vista de outra civilização antiga: os antigos egípcios.
Mapa celeste moderno com a região da constelação de Órion.

De acordo com Orofino [3], ainda que várias interpretações alternativas existam sobre a importância que os Egípcios davam a Órion:
Pensa-se comumente que os antigos Egípcios associavam a constelação de Órion (Sah) - em particular a região do cinturão de Órion, a Osíris, um dos mais importantes deuses do panteão Egípcio, enquanto que Sírius (Sopdet ou Sothis) representava a deusa Íris, irmã e esposa de Osíris. 
Cena do zodíaco de Denderah mostrando
Sah (Órion) e Sopdit (Sírius) como um vaca.
Sah era considerado o "pai dos deuses", e o cinturão, a coroa sobre sua cabeça. O reaparecimento de Sírios depois de 70 dias era de grande significado para os antigos Egípicos, pois marcava o início das inundações do rio Nilo.

Além disso:
De qualquer forma, parece certo que os Egípcios acreditavam em um pós-vida celeste para a qual as almas dos mortos transmigravam depois da morte. De acordo com os Textos das Pirâmides, tal reino celeste era localizado na região do céu ao redor do cinturão de Órion. Nesse sentido, as pirâmides foram provavelmente construídas para ajudar o Faraó em sua jornada até a próxima vida. [3]
Eis a chamada "conexão Gizé-Órion", uma teoria não aceita academicamente, criada por Robert Bauval [4] em 1989, segundo a qual a posição das três estrelas do cinturão [5] estão em escala com o centro das três grandes pirâmides da necrópole de Gizé, Khufu (Quéops), Kafre (Quéfren) e Menkaure (Miquerinos), mesmo considerando o movimento aparente das estrelas do cinturão desde a época da construção das pirâmides. O erro de posição depois de algum trabalho de alinhamento não é maior que 3' de arco, dentro do esperado da acuidade da vista desarmada. Bauval criou uma controvérsia, pois afirma além disso que o posicionamento correto das estrelas do cinturão com as pirâmides demonstra que a data de construção dessas últimas remonta a 11 mil a. C e não ao período academicamente aceito. Orofino e Bernardini também estabelecem uma correlação entre as alturas das pirâmides o brilho das estrelas do cinturão.

Mapa de Orofino e Bernardini [3] mostrando a correspondência entre a posição das Pirâmides da necrópole de Guizé e as três estrelas do cinturão de Órion [5] (Mintaka, Alnilam e Alnitak). 
Imagem do complexo de pirâmides de Guizé.
Seriam elas uma gigantesca representação do cinturão de Órion? (fonte: Wikipedia)
Tais constatações de arqueoastronomia são suficientes para despertar o interesse e curiosidade nossa, ainda que todos esses fatos sejam descartados como  meras coincidências pelos acadêmicos, na falta de mais textos antigos de validação. Mas, sem outras formas de conhecer o passado, essa correlação provavelmente nunca deixará o campo especulativo.

Deixamos ao leitor apreciar e discutir em maiores detalhes essas informações sobre essa brilhante constelação que é Órion. Não deixe de compartilhar sua opinião, escrevendo abaixo seu comentário.

Referências

[2] G. Afonso. (2006) Mitos e Estações no Céu Tupi-Guarani. Scientific American Brasil. Edição Especial sobre Etnoastronomia. Acesso em outubro de 2016.
[3] Orofino, V., & Bernardini, P. (2016). Archaeoastronomical Study of the Main Pyramids of Giza, Egypt: Possible Correlations with the Stars? Archaeological Discovery, 4, 1-10.
[4] Bauval, R. G. (1989). A Master Plan for the Three Pyramids of Giza based on the Configuration of the Three Stars of the Belt of Orion. Discussions in Egyptology, 13, 7-19.
[5] As Três Marias. Blog "Astronomiapratica": https://astronomiapratica.blogspot.com.br/2016/10/as-tres-marias.html


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